Sangue Azul (Parte II)

Arquétipos de Nobreza

(por José Noce)


Em Sangue Azul – Parte I, vimos as diferenças entre as diversas classes da hierarquia feudal. Agora, apresentamos alguns modelos que podem ser úteis na hora de você criar o seu personagem nobre. Estes arquétipos indicam não só a índole do personagem como também seus pontos fortes e fracos. É possível usar mais de um arquétipo para delinear melhor a personalidade de um nobre, assim como com outras características. Ao final dos arquétipos, haverá exemplos de personagens. Quase todos tirados da série Game of Thrones. Série que me inspirou a fazer estas duas postagens.

O Herdeiro:
Você foi criado – ou melhor, forjado – para herdar a posição social da sua família. Desde a sua infância, tem aprendido a suportar o peso desta responsabilidade. Sendo o varão, sempre esteve à frente das atividades da família, observando, aprendendo e atuando quando lhe é dada a chance. Por isso, adquiriu uma atitude pragmática. Você prefere uma ação firme a sutilezas e rodeios. Além de ser um líder nato, também age sem hesitação quando lhe é ordenado. Um bom exemplo de Herdeiro, apesar de alguns desatinos, é o Rob Starke.

O Mimado:
Assim como o Herdeiro, você também foi criado para subir ao poder. Porém, ao invés de considerar esta herança como uma responsabilidade a ser honrada, vê como um direito inquestionável. Foi criado com todo tipo privilégios, regalias e proteção. Por isso, é incapaz de aceitar um não. Você exige que sejam atendidos cada um dos seus caprichos e pune severamente aqueles que te contrariam. Geofrey Baratheon é um bom exemplo.

O Sibarita:
Com dinheiro e posição social uma pessoa pode simplesmente curtir a vida despreocupadamente. É o que você faz. Beberrão e festeiro, a taverna é o seu lar. Sempre come as melhores comidas, bebe os mais refinados vinhos e se hospeda nas mais luxuosas estalagens. Mas não dispensa um pulgueiro, bordel ou inferninho, se o lugar está em festa. Anda cercado de boêmios e de belas mulheres prontas a lhe oferecer seus dotes. Afinal, o dinheiro traz muitos “amigos”. Exemplo:  Tyrion Lannister.

O Degenerado:
Você vive em função da busca pelo prazer. Porém, ao contrário do Sibarita, você não se contenta apenas com festas e luxo. Sua satisfação provém de atos pervertidos e muitas vezes condenáveis pela sociedade, como assassinato, incesto, sado-masoquismo, estupro, entre outros. Quando não está realizando as suas perversões, você está usando o seu poder e fortuna para encobrir as suas ações ou sair impune. O exemplo mais conhecido de nobre Degenerado foi o Marquês de Sades, nome do qual surgiu a expressão sadismo.

O Honrado:
A honra vale mais do que a própria vida para você. Norteando seus passos por um estrito código de conduta, é incapaz de cometer perjúrio, atos de covardia ou traição, mesmo quando isso se faz necessário. Porém, irá defender a sua honra e a dos seus sem medir esforços. As pessoas costumam considerá-lo tolo, porém confiável. Exemplos: o casal Ned Starke e Kat Starke.

O Militar:
Você foi criado na caserna, ao lado dos homens-de-armas. Por isso, é bem familiarizado com assuntos bélicos, como estratégia, tática, história militar, sítio e combate, entre outros. Porém, infelizmente, muito pouco você entende das intrigas e sutilezas da corte. Exemplo: novamente Ned Starke.

O Altruísta:
Você teve o privilégio de nascer numa posição social elevada. Por isso, usa esta posição para ajudar ou defender os mais fracos e necessitados. Apesar de não ser um exemplo feudal, uma boa representação deste arquétipo é o da “sinhazinha” que protege os escravos das crueldades dos seus senhores.

O Paranóico:
Você crê que todos conspiram contra a sua pessoa. Do rei – se este não for você – ao mais humilde servo, todos esperam por um deslize seu para tomarem o seu lugar. Por isso, não confia em ninguém e nem tem amigos. Exemplo: o Imperador Padishah Shadam IV, do livro Duna. Apesar de se tratar de uma obra de ficção científica, Duna apresenta uma sociedade semi-feudal.

O Fanático:
Você devotou sua vida a uma causa. Seja um ideal ou uma religião, algo bom ou maligno, isso é o que direciona os seus atos. Não irá medir esforços para chegar aos seus objetivos. Mesmo que isso prejudique aos outros a sua volta ou a si mesmo. Exemplo: Dom Sebastião, Rei católico de Portugal, que pereceu na África, aos vinte e quatro anos, tentando invadir terras islâmicas.

O Utilitarista:
Você age conforme certa conduta, não por crer que seja o correto, mas porque aquilo lhe convém. Use qualquer arquétipo de personalidade, mas sem ir até as últimas consequências. Pois, a sua conduta é só da boca para fora. O grande problema é que você pode ser obrigado a fazer aquilo que não quer para defender a sua reputação, ou ser taxado de hipócrita.

Curiosidade: De Onde Vem a Expressão Sangue Azul?


Este termo discriminatório surgiu na época da Reconquista espanhola e portuguesa. Os mouros haviam invadido todo o sul da Península Ibérica, dominando a região por séculos. E durante o tempo que estiveram por lá, houve muita miscigenação do povo europeu com o mouro, que tinha a pele mais escura. Sendo estes territórios retomados pelos europeus, eles logo exterminaram a nobreza local, pondo seus próprios nobres no lugar. Estes nobres, por não terem sangue mouro, eram extremamente brancos. A ponto de suas veias aparecerem por debaixo da sua pele, com uma tonalidade meio azul-rocheada. O termo então era usado para distinguir a classe dominante branca da plebe de pele escura.

8 comentários:

  1. Respostas
    1. Realmente, Odin. Ideias para novos personagens.

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    2. Neste post eu só toquei na pontinha do iceberg. Mtos outros arquétipos podem ser encontrados em romances e crônicas medieviais. Pra começar, George R. R. Martin, é claro, e Maurice Druon, nas suas crônicas sobre o Império Platageneta. Além da obra d Frank e Brian Herbert, Duna, e suas continuações. Outras fontes interessantes tb são as crônicas do império romano em geral.

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