Conheçam esse mostro de narrador
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por Filipe Lutalo
Caros
rpgamers, hoje trazemos para vocês, Bernardo Bastos, mestre atuante
da Ethernalys RPG, blogueiro do GURPEIROS, jogador,
mestre de RPG dentre outras coisas.
RPGames
Brasil: Bernardo, você está ha muito tempo na cena do RPG em
BH. Nos fale de você?
Bernardo
Bastos: Bom, sou um belorizontino, 41 anos, casado com uma benção
de esposa da terra da cachaça (Salinas) chamada Lidiane. Formei em
Administração com ênfase em Sistemas de Informação e trabalho
atualmente nos Correios, na área de recursos humanos, focado em
banco de dados e gestão de informação. Rpgista de coração e nerd
de carteirinha, amo mitologia grega, poesia, livros da literatura
clássica. Sou fã da Marvel, DC, TopCow, animes japoneses como CDZ e
Fate. Leitor assíduo de Tolkien, George RR Martin, Lovecraft, de
séries de fantasia e ficção científica como Star Trek, The
Expanse, GOT etc. Olhando mais profundamente, acredito é que sou o
mesmo garoto sonhador de sempre e que ama criar e contar estórias.
Desde pequeno fui assim. Lembro de ainda menino de assistir aquelas
séries japonesas da década de 80, o auge de Jaspion e Changeman e
desenhos animados (Herculoides, Thundercats, He-man, Defensores da
Terra, Gi Joe, etc) e me colocar no lugar daqueles heróis. Acho que
minha paixão pelo RPG começou ali sem ter a noção ainda que
existia ou o que era o nosso querido hobby...
Foto: reprodução do FB (página da Ethernalys). Material da aventura Matadores de Zumbis Nazistas |
R.B.:
Quando começou a jogar RPG?
B.B.:
Meu primeiro contato foi com AD&D no início da década de
noventa; devia ter cerca de 12 anos. Um amigo tinha um xerox do livro
em inglês e jogamos algumas partidas. Porém realmente fui conhecer
o RPG quando li uma matéria sobre GURPS no Brasil, 1992. Fiquei
curioso e quando minha madrinha me perguntou qual presente queria de
aniversário, falei com ela do GURPS. Fomos na livraria Leitura da
Savassi, comprei o Modulo Básico 3ª Ed. e o Fantasy. Li, aprendi o
sistema e apresentei a uns amigos, tinha cerca de 15 anos na época.
Apaixonei pelo sistema e jogo até hoje.
R.B:
Quais sistemas joga ou mestra atualmente? Qual o sistema mais curte
jogar e porque?
B.B.:
Nunca parei de jogar GURPS. Sinceramente é um sistema que me atende
perfeitamente. Já joguei AD&D, D&D 3.5, Daemon
e Storyteller; a mecânica deles não me atrai. Também já
mestrei a Bandeira do Elefante e da Arara e Toon –
para me preparar para eventos. Com relação ao primeiro me
interessei pela contextualização histórica bem legal (bem própria
para alunos e escolas) e quanto ao segundo por ser um sistema bem
divertido para crianças e adolescentes. Li muitos outros sistemas e
cenários por exemplo: Tagmar, Savage Words. Dragon Age, Talistlanta,
etc, mais para tirar ideias de mecânicas e cenários. Contudo,
confesso que desde adolescente sempre gostei mais de mestrar do que
de jogar RPG e não tem jeito, o que curto mesmo é GURPS!
R.B.:
Qual a aventura que foi mais memorável para você? Nos conte.
B.B:
Terminei recentemente uma campanha de 4 anos numa adaptação do
cenário GURPS BANESTORM. Em uma das sessões, os heróis
viviam em uma cidade e uma das magas do grupo possuía um cajado que
era um poderoso artefato mágico. Enquanto estavam na taverna, o
cajado emitiu uma luz tênue. Eles sentiram algo estranho e nada
mais. Depois, foram fazer várias coisas durante o dia, anoiteceu e
adormeceram. De repente, acordaram de madrugada com gritos e cheiro
de fumaça: a cidadela estava sendo atacada por um exército de
Dragões! Tentaram sair do segundo andar da taverna (onde estavam os
quartos), mas tudo estava em chamas e confuso. De repente um dragão
passa levando metade da estrutura da taverna destruindo tudo e
jogando o guerreiro junto com sua esposa nos destroços do primeiro
andar. O guerreiro sobrevive, mas sua esposa (detalhe: grávida de
seu filho) morre empalada. Chocados, eles tentam sair dali no meio
daquela confusão de gente morrendo, fogo e urros de dragões. Um a
um começa a morrer incluindo o guerreiro (nesse ponto o jogador do
guerreiro já está puto comigo!) porque é uma tragédia mesmo,
parece que nenhum deles sobreviveria... Quando não tem mais
esperança de vencer, eu falo aos sobreviventes: “vcs se sentem
meio zonzos e tudo fica enevoado. De repente, se vêem novamente a
mesa da taverna (no momento em que o cajado brilhou). O que vocês
tiveram foi uma visão dos eventos que ocorrerão? O que farão para
evitar a guerra iminente?” Encerrei a sessão. Os jogadores
piraram, até hoje me falam que foi uma das sessões mais épicas de
todas que tivemos nesses quatro anos de mesa.
Foto: reprodução do FB (página da Ethernalys). Bernardo mestrando. |
R.B.:
Sua adoração pelo GURPS é notória. O que te faz gostar tanto?
B.B.:
Tentarei resumir. Rsrsrs! GURPS é um sistema que permite o mestre
fazer qualquer coisa e ao mesmo tempo atende as ideias mais
mirabolantes dos jogadores, mantendo a minha sanidade (quem é GM
sabe do que estou falando!). Possui regras coesas e diferente do que
muitos pensam, o “cerne” do sistema é simples: basicamente basta
jogar 3 dados de 6 faces somar e comparar com um parâmetro na ficha.
Por ser um sistema modular, se retirar a maioria das regras ele não
quebra e você consegue narrar em uma mesa one shot de
40 minutos em um evento sem problemas. Por outro lado, se eu precisar
de uma regra para saber em quanto tempo dois prisioneiros vão
demorar para sair de uma prisão cavando com uma colher de sobremesa
(ah! a famigerada regra de cavar buraco), tenho ela em mãos! Quantas
vezes surgiu uma discussão na mesa e, no final da sessão, saquei o
livro porque tinha uma regra sanando a dúvida de todos. Em outros
sistemas, preciso usar regras da casa ou a regra de ouro (que
na minha humilde opinião tinha de ser exceção e não regra!).
Enfim, comparo a modularidade de GURPS a minha outra paixão:
culinária. Se souber dosar os temperos vai fazer algo delicioso!
GURPS é assim, se souber usar o sistema, te entrega o melhor
resultado!
R.B.:
Como surgiu a ideia de criar o Blog GURPEIROS?
B.B.:
Sempre gostei de escrever e queria tirar algumas ideias do papel.
Mostrar que GURPS não é o bicho de sete cabeças, a versatilidade
do sistema, os seus pontos positivos. Serei franco: não escrevo no
blog para agradar a ninguém, mas “o que eu gostaria de ler num
blog?”. Com a disseminação das redes sociais e mídias
alternativas, surgiram muita coisa boa, mas também, muito material
superficial e repetitivo. Quero fazer a diferença, escrever artigos
profundos e em uma linguagem simples que mesmo um cara que nunca viu
o sistema ou rpg possa entender. Dependendo do assunto, abordo
mecânicas e o tema possa não agradar a maioria. Entretanto, já
tive agradáveis surpresas com o Gurpeiros sendo citado no ranking de
blogs mais acessados (site RPGista)!
R.B.:
Nos fale um pouco da sua atuação na Ethernalys. O que acha da
iniciativa? Quais os desafios de mestrar One-shots?
B.B.:
Conheci o Ethernalys em 2015 quando mestrei em um evento deles. Desde
então, não larguei o grupo porque sempre me identifiquei com o seu
ideal: tornar o nosso hobby conhecido. Minha crítica ao grupo na
época era que permaneciam apenas no Barreiro, tinham que expandir,
porque havia muitos jogadores na região de BH sedentos em rpg. Com
grande satisfação, essa ideia amadureceu e com a direção do
Walisson, o apoio do Rafa (Rafael Alves) e dos demais integrantes, o grupo cresceu e
vem assumindo uma posição de destaque no cenário mineiro e no
Brasil (!). Sempre vi o Ethernalys como um trabalho voluntário e
filantropo. Fomos beneficiados pelo RPG. Ele mudou nossas vidas, nos
deu novos amigos, nos ajudou a quebrar a timidez, a desenvolver a
comunicação e a leitura, o raciocínio lógico etc. A ideia do RPG
como uma ferramenta que transforma vidas é que devemos levar as
pessoas e, principalmente, às comunidades carentes. Acho fundamental
esse papel dos narradores do Ethernalys.
Foto: reprodução do FB (página da Ethernalys). Equipe em evento. |
R.B.:
O GURPS sofreu preconceito nas décadas de 1990. Por que isso
aconteceu? Como o público recebe o sistema em suas mesas?
B.B.:
Nem curto muito de falar sobre isso, me entristece. Luto em minhas
mesas e nos eventos para quebrar esse paradigma. Há falta de
informação e muitos que falam que GURPS é complicado repetem o que
leram em um artigo de uma certa revista ou ouviram falar. Claro,
existe também uma parcela de culpa dos narradores de GURPS mal
preparados. Ao longo dos meus 25 anos de mestre cometi muitos erros.
Se tu comeu uma única vez um bobó de camarão e estava uma
porcaria, você vai achar que camarão tem aquele gosto horrível...
Por isso eu convido os jogadores a esquecer o que ouviram falar ou
das experiências negativas e dar uma segunda chance! Até agora não
tive reclamações.
R.B.:
Por que o GURPS não se tornou um sistema popular no Brasil?
B.B.:
Junto com D&D e Storyteller, GURPS já foi um dos sistemas mais
jogados nas mesas na década de 90. Infelizmente a época dele já
passou. Hoje, está limitado a nichos e grupos de jogadores
(normalmente veteranos). Porém, não impede de divulgar o sistema,
principalmente, porque é um bom sistema! Na minha última mesa (essa
que citei de Banestorm) tinham três novatos (na faixa de 20 anos)
que nunca tinham jogado GURPS. Vieram de D&D e se apaixonaram
pelo sistema. Agora respondendo a sua pergunta, GURPS não tem uma
diagramação bonita e uma aparência atraente, não apresenta
cenários consagrados, como por exemplo os livros recentes de D&D,
Savage Worlds. Talvez, a maior barreira é a falta de material em
português e de uma editora no Brasil. A DEVIR não tratou bem do
nosso amado sistema nas duas últimas décadas. Há muito material
sendo produzido lá fora. Todo mês a Steve Jackson lança pelo menos
um suplemento em inglês! Complica para quem não conhece a língua.
Por outro lado, há outros sistemas em português surgindo e com um
diálogo mais próximo do público atual, mais minimalistas. Não
tenho a ilusão que GURPS vai se reerguer. Todavia, deve ser levado
ao conhecimento do público e quebrar essa ideia que é um sistema
difícil de jogar.
R.B.:
Quais os desafios de mestrar e de escrever um blog?
B.B.:
Arrumar tempo para isso. Casado e trabalhando oito a dez horas por
dia, sobra pouco tempo para se dedicar ao hobby. Brinco que quando
éramos adolescentes, tínhamos todo o tempo do mundo para o rpg, mas
não tínhamos dinheiro para comprar os livros e suplementos. Hoje a
situação se inverteu: consigo comprar aquele livro novo (e que era
“caro” na época), mas não tenho tempo para mestrar ou escrever
aquela aventura. A vida corrida não nos permite a liberdade de poder
jogar todo fim de semana. Jogo mensal, além dos eventos que
participo com o Ethernalys.
|
R.B.:
Você mestrará outro sistema, além do GURPS?
B.B.:
Tudo é possível. Considero alguns sistemas bem interessantes, como:
DCC, Forbiden Lands, Talislanta, Toon e A Bandeira do Elefante e da
Arara.
R.B.:
Quais suas palavras finais? Que mensagem gostaria de deixar para os
nossos leitores?
B.B:
Primeiro, gostaria de agradecer pela oportunidade dessa entrevista,
foi uma honra participar do RPGames Brasil. Segundo, queria convidar
todos que não conhecem o trabalho do Ethernalys para curtir a página
e conhecer o nosso trabalho: há narradores feras no grupo e que vão
proporcionar a vocês uma jogatina incrível! Por último, se tiver a
oportunidade de conhecer o GURPS, não percam; aqueles que já o
conhecem e não foram bem apresentados ao “camarão”, eu estou à
disposição, junto com o Ethernalys, para quebrar essa má
impressão! Acima de tudo, joguem bastante RPG, independente do
sistema. O importante é se divertir!
R.B:
Agrademos a maravilhosa entrevista que nos concedeu. Esperamos muitos
sucessos decisivos nos seus jogos e poucas falhas críticas. Longa
vida ao GURPEIROS e a seu trabalho no Ethernalys.
Agradeço mais uma vez pela oportunidade e vida longa ao seu trabalho meu caro Filipe Dias!
ResponderExcluirBernardo, o RPGames Brasil está de portas abertas. Apareça sempre que desejar.
ExcluirParabéns pela entrevista. Bernardo, sucesso para você!
ResponderExcluirBernardo nos horou com essa entrevista!
ExcluirBernando é um cara fantástico e contribui muito para o RPG no brasil e principalmente ao GURPS! Parabéns pela entrevista e muito sucesso pra ti!
ResponderExcluirFoi uma honra entrevistar o Bernardo! Longa vida a esse grande mestre!
ExcluirParabéns pela entrevista! Foi direto ao ponto e ressoou a opinião de todos os que amamos GURPS.
ResponderExcluirFoi uma honra entrevistar o Bernardo! Longa vida a esse grande mestre!
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